Tonturas e vertigens são queixas frequentes, podendo ter múltiplas origens. Na vertigem, o paciente relata uma ilusão de movimento, sentindo que o ambiente está girando ao seu redor ou que ele próprio está girando.
Geralmente, o quadro tem origem no sistema nervoso periférico, envolvendo distúrbios do ouvido interno como a Doença de Ménière, a Vertigem Posicional Paroxística Benigna (VPPB), labirintites ou neurites vestibulares. Contudo, também pode ser consequência de patologias no Sistema Nervoso Central (vertigem central), como isquemias (AVC), hemorragias ou tumores, além de traumas e infecções. Alterações na região cervical (pescoço) também são causas conhecidas de vertigem.
Embora muitas causas sejam benignas, algumas podem oferecer risco à saúde. Portanto, o objetivo inicial dos médicos é identificar pacientes que necessitam de internação ou intervenção de emergência.
O manejo da tontura é complexo. Muitas das medicações atuais oferecem alívio sintomático, mas nem sempre atuam na causa base ou são ideais para uso prolongado devido aos efeitos sedativos.
O tratamento convencional para tontura e vertigem geralmente envolve terapia farmacológica, como supressores vestibulares, antieméticos (para náuseas) e benzodiazepínicos. No entanto, o uso dessas medicações pode vir acompanhado de efeitos colaterais, como sonolência e lentificação.
A vertigem crônica é uma questão relevante de saúde pública, afetando a qualidade de vida de milhões de pacientes. Devido à complexidade dos mecanismos envolvidos, encontrar tratamentos que sejam simultaneamente seguros e eficazes a longo prazo continua sendo uma prioridade médica.
Nesse contexto, terapias complementares que reduzam a intensidade da vertigem sem adicionar efeitos adversos significativos são intervenções valiosas.
Estudo: acupuntura no alívio de tonturas e vertigens
A acupuntura tem se mostrado segura e eficaz como terapia adjuvante para tonturas e vertigens, inclusive em ambiente de pronto-socorro. Uma investigação recente documentou resultados positivos utilizando medidas tanto subjetivas quanto objetivas.
O estudo utilizou a Escala Visual Analógica (VAS) — onde o paciente pontua seu desconforto — e o Dizziness Handicap Inventory (DHI) para avaliar a percepção dos sintomas. Além disso, monitorou a HRV (Variabilidade da Frequência Cardíaca), um marcador fisiológico que indica o equilíbrio do sistema nervoso autônomo. Os resultados apontaram um efeito terapêutico significativo.
Embora a acupuntura seja utilizada para esses sintomas há milênios na Medicina Tradicional Chinesa, este estudo buscou trazer validação científica moderna para o fenômeno clínico.
O objetivo foi determinar a segurança e eficácia da técnica no Departamento de Emergência do Hospital de Changhua, em Taiwan. Os pesquisadores recrutaram 60 pacientes para o ensaio clínico.
Todos os participantes passaram por triagem com otorrinolaringologista e neurologista. Foram incluídos casos de tontura, vertigem, insuficiência vertebrobasilar, Doença de Ménière e neurite vestibular.
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Metodologia da Acupuntura
Os pacientes foram divididos em dois grupos: tratamento real e controle.
O grupo de acupuntura recebeu aplicação nos pontos E36 (Zusanli) e PC6 (Neiguan), utilizando agulhas descartáveis estéreis. As agulhas foram estimuladas manualmente até a obtenção do “De Qi” — uma sensação específica de peso ou distensão que indica a ativação correta do ponto neuroativo. O tempo de permanência das agulhas foi de 30 minutos.
O grupo controle recebeu acupuntura “sham” (simulada/placebo). Adesivos com sementes foram aplicados em locais que não correspondem a pontos de acupuntura reais (cerca de 1 cm de distância dos pontos corretos), sem perfuração da pele.
O estudo demonstrou que a aplicação da acupuntura nos pontos PC6 e E36 resultou em redução imediata do desconforto e melhoria nos índices da escala VAS para tonturas e vertigens.
Segundo os pesquisadores, o estudo fornece “evidências clínicas sobre a eficácia e segurança da acupuntura para tratar a vertigem e tontura no departamento de emergência”.
A seleção dos pontos de acupuntura seguiu a lógica da Medicina Tradicional Chinesa (MTC), focando na regulação gástrica e do sistema nervoso:
Ponto PC6 (Neiguan): Localizado no antebraço, próximo ao punho (entre os tendões), é classicamente indicado para náuseas, vômitos, palpitações e desconforto torácico. É um ponto chave para acalmar a mente e regular o estômago.
Ponto E36 (Zusanli): Localizado na perna, abaixo do joelho (próximo à tíbia). É um dos pontos mais utilizados para fortalecimento geral, distúrbios gastrointestinais, dores abdominais e regulação da pressão, auxiliando na estabilidade sistêmica.
Conclusão dos autores
A intervenção apresentou efeito rápido, com redução estatisticamente relevante dos sintomas após apenas 30 minutos de sessão.
Os resultados deste estudo piloto sugerem que a acupuntura é uma ferramenta segura e útil no manejo agudo da vertigem. Os autores ressaltam a necessidade de estudos multicêntricos maiores para ampliar a confirmação destes achados.
Estabilização do Sistema Nervoso
Siga o círculo. A respiração lenta ativa o nervo vago e reduz a sensação de tontura.
Outros estudos sobre acupuntura para tontura e vertigem
A literatura médica tem expandido a investigação nesta área. Uma revisão sistemática focada na Síndrome de Ménière sugeriu benefícios da acupuntura tanto na fase aguda quanto na crônica da doença (Long, 2011).
Muitas pesquisas focam especificamente na vertigem cervical — aquela causada por tensão ou problemas na coluna cervical que afetam o fluxo sanguíneo para o cérebro (artérias vertebrais).
Evidências recentes apontam que:
- A combinação de eletroacupuntura com manipulação de pontos foi mais eficaz do que a eletroacupuntura isolada para vertigem cervical (Li, 2011);
- A acupuntura mostrou superioridade em relação à moxabustão para alívio de sintomas em alguns ensaios (Zhang, 2008), enquanto outros estudos sugerem benefícios específicos da moxabustão (Xiaoxiang, 2006), indicando que a individualização do tratamento é chave.
Mecanisticamente, acredita-se que a acupuntura estimule o sistema nervoso a liberar neurotransmissores e opioides endógenos. Essas alterações bioquímicas ajudam a regular a homeostase (equilíbrio) do corpo, reduzindo a sensibilidade à dor e ao estresse e melhorando a circulação local, o que justifica seus efeitos positivos em quadros vertiginosos (Hui, 2010).
Acupuntura x Medicamentos
Como as terapias se completam:
Medicamentos
- Deprimem o sistema labiríntico (sedam).
- Ótimos para crises agudas violentas.
- Podem causar sonolência e lentidão.
Acupuntura
- Modula o fluxo sanguíneo e inflamação.
- Ajuda na recuperação crônica e reabilitação.
- Sem efeitos colaterais de sonolência.
Referências bibliográficas
Chiu, Chih-Wen, Tsung-Chieh Lee, Po-Chi Hsu, Chia-Yun Chen, Shun-Chang Chang, John Y. Chiang, and Lun-Chien Lo. “Efficacy and safety of acupuncture for dizziness and vertigo in emergency department: a pilot cohort study.” BMC complementary and alternative medicine 15, no. 1 (2015): 173.
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Newman-Toker DE, Cannon LM, Stofferahn ME, Rothman RE, Hsieh YH, Zee DS. Imprecision in patient reports of dizziness symptom quality: a cross- sectional study conducted in an acute care setting. Mayo Clinic Proc. 2007; 82(11):1329-1340.
