Estalos no pescoço: Causas e riscos

O hábito de estalar o pescoço é frequente para muitas pessoas que buscam alívio imediato da tensão cervical. No entanto, o que parece um gesto inofensivo pode mascarar ou agravar distúrbios osteoarticulares importantes.

Embora a sensação de relaxamento seja instantânea, poucos compreendem a anatomia por trás desse ruído e os riscos vasculares envolvidos na manipulação brusca da região cervical.

Um caso que ganhou notoriedade médica foi o do norte-americano Josh Hader, de 28 anos. Ao tentar aliviar uma dor no pescoço com um movimento de rotação forçada, ele sofreu um AVC (Acidente Vascular Cerebral).

O mecanismo da lesão foi o rompimento da artéria vertebral, que passa por dentro das vértebras do pescoço. Segundo relatos, após ouvir o som de “pop”, ele sentiu dormência imediata no lado esquerdo do corpo, um sintoma clássico de comprometimento neurológico.

Felizmente, Hader buscou socorro rápido. O diagnóstico confirmou que o movimento brusco causou uma dissecção arterial, levando à formação de um coágulo que atingiu o cérebro.

Embora eventos catastróficos como este sejam estatisticamente raros, o Queen’s Medical Center e diversas associações de neurologia alertam que a manipulação cervical amadora carrega riscos reais, variando desde microlesões em ligamentos até eventos vasculares graves.

Neste artigo, explicamos a ciência por trás do estalo e como aliviar a tensão cervical com segurança, sem colocar sua saúde em risco.

Durante décadas, a origem exata do som dos estalos articulares foi debatida. Recentemente, avanços em exames de imagem dinâmica permitiram uma conclusão mais sólida.

Todo o evento sonoro ocorre em cerca de 300 milissegundos, tornando-o imperceptível a olho nu. No entanto, um estudo publicado pela Scientific Reports confirmou a teoria da Cavitação.

Nossas articulações são lubrificadas pelo líquido sinovial, que contém gases dissolvidos (como oxigênio, nitrogênio e dióxido de carbono). Quando esticamos ou dobramos o pescoço rapidamente, a cápsula articular se expande, diminuindo a pressão interna. Isso faz com que os gases se aglutinem formando bolhas, que colapsam (estouram) rapidamente, gerando o som característico.

Embora o estalo por cavitação em si não cause artrite (um mito comum), o movimento repetitivo e forçado para “buscar” esse estalo pode gerar frouxidão nos ligamentos e instabilidade vertebral a longo prazo.

O perigo reside na automanipulação amadora. Diferente de um ajuste realizado por um profissional qualificado (como em sessões médicas de manipulação ou quiropraxia controlada), a pessoa que estala o próprio pescoço tende a usar força excessiva e ângulos perigosos.

Além do risco vascular, há o risco ortopédico. Estalar o pescoço compulsivamente pode levar a:

• Hipermobilidade: Os ligamentos ficam “frouxos”, reduzindo a estabilidade do pescoço e causando mais dor a longo prazo.
• Desgaste Cartilaginoso: Aceleração de processos de artrose cervical.
• Fraturas (Raro): Em pessoas com osteoporose ou fragilidade óssea, a força aplicada pode, em casos extremos, causar fraturas nos processos espinhosos das vértebras.

Para quem sente a necessidade constante de estalar, é importante investigar a causa raiz: geralmente, uma tensão muscular crônica ou desalinhamento postural que cria a sensação de “precisar” do estalo.

Se o hábito de estalar o pescoço é compulsivo ou se há dor associada, a avaliação médica é indispensável. O médico Fisiatra (especialista em Medicina Física e Reabilitação) ou o Ortopedista são os profissionais indicados para avaliar a integridade da coluna cervical.

A investigação pode incluir exames de imagem como Raio-X ou Ressonância Magnética para descartar hérnias de disco, artrose ou instabilidade vertebral que estejam causando o desconforto inicial.